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Mostrando postagens de junho, 2011

Separação em Comunhão Total

O amor não acabara, mas a vida havia imposto uma distância intransponível entre os dois. Porque as perspectivas eram sombrias, ele decidiu ignorar o coração e ouvir a razão. Diante de uma lista de prós e contras, concluiu que apesar de serem almas complementares teriam que se separar. Foi durante um jantar, no restaurante preterido dela, que foi feita a leitura da lista e da decisão tomada. Ela tomou em um gole o vinho fraco, não disse uma só palavra, além da aquiescência, pediu para partir e fugiu da cena do crime. A distância foi dolorosa. Suas vidas já estavam muito atreladas quando se separaram, retomar a individualidade estava sendo mais duro que imaginara. Para não correr o risco de ferir sua dignidade apagou todos os telefones, endereços, redes sociais, e outros dispositivos que pudessem facilitar a busca desesperada por informações. Foi uma atitude suicida, pois nenhuma notícia tornava a distância e a separação ainda mais derradeira e abismal. Mas precisava ser forte e manter...

Memórias de Chip

Quando eu nasci fui recebido com muito carinho. Tinha mais seis irmãozinhos, mas minha mãe tratava a nós todos da mesma maneira. Nossa caminha era quentinha, e tinha uma mulher que ajudava minha mãe, trazendo comida para ela, água fresquinha e mais jornais para manter nosso ninho aquecido. A primeira sensação que aprendi foi a felicidade. Era tão gostoso ter aquele mundinho só para mim, meus irmãos e minha mãe, que não achava que a vida podia ser mais que isso. Logo aprendi que quanto mais feliz, mais meu rabinho balançava, e tratava de abanar mais rápido toda vez que a nossa cuidadora aparecia para demonstrar toda nossa gratidão. Depois descobri que ela não gostava que fizéssemos aquilo, pois um belo dia apareceu um homem estranho que cortou nossos rabinhos. Foi muito doloroso, mas eu não fiquei chateado, nunca iria deixar de sentir gratidão por nossa cuidadora, afinal, ela nunca nos abandonou. Até o dia que eu fui tirado de minha mãe e de meus irmãos. Eu não sei o que fiz de...

Como Da Primeira Vez

Há algo que me encanta toda vez que te vejo e que não sei explicar. Meu sorriso brota espontâneo e involuntário quando te reconheço no meio da multidão. De repente, tudo ao meu redor some e só há nós dois nesse momento. E a cada reencontro, desde sempre, meu coração para, como da primeira vez. Há qualquer coisa esquisita que se revolve dentro de mim toda vez que você me toca. Minha boca seca, minhas mãos umedecem, minhas pernas tremem, meu peito retumba e minhas faces coram. De repente meus pensamentos rodam e as palavras fogem. E a cada toque, desde sempre, minha respiração para, como da primeira vez. H á um não sei quê intoxicante toda vez que sua boca encosta na minha. Tenho a sensação de que estou caindo, caindo, caindo. O vento soprando forte, o chão dos meus pés fugindo, meu corpo leve e trêmulo. De repente a sensação de queda transforma-se e me sinto flutuando sobre nuvens, calma e tranqüila. E a cada beijo, desde sempre, meu mundo para, como da primeira vez. Há algo, qual...

Sonho de Criança

    Quando eu era menina, como todas as outras meninas, sonhava. Mas eu sonhava em ser diferente. Isso talvez me diferenciasse, mas enfim, eu também sonhava. E os sonhos, apesar de diferentes, partiam de um ponto comum: o que eu ia ser quando crescer! Tudo bem que, devido à minha genética, meu pai dizia que eu não cresceria muito, mas isso era só para me irritar, o que invariavelmente acontecia. De qualquer forma, insistentemente, eu seguia sonhando, e crescia. Sonhava que seria contorcionista de circo ou a versão feminina do Tarzan. Não a chata da Jane. Queria pertencer à floresta! Ainda com a intenção de me matar de raiva, meu pai dizia que eu não precisava me preocupar, pois que eu já era a cara do Mogli. Graças a Deus eu tinha minha mãe por perto para me defender nessas horas e me restituir a autoestima.      Teve uma época, por volta dos seis anos, que me encantei com um livro de capa de couro verde, grande, grosso e com letras miudinhas, que tín...