E agora, o que faço com meu bom humor? Os amigos estão longe, cada um com seus afazeres. O Amor está ocupado, envolvido com o labor. A televisão é impassível, e eu sou muito expansiva para só olhar e ouvir, nesses momentos de alegria, preciso interagir. Na internet, mesmo em salas de bate papo, tudo é tão frio e virtual, nada parece conseguir suprir minha necessidade de calor humano palpável. E o telefone só satisfaz um dos meus sentidos, preciso ocupar pelo menos três para me sentir realizada.
Tenho um mundo inteiro dentro de mim, e na maioria das vezes não preciso de companhia. Eu as crio, as invento, nem preciso participar, viajo com minhas histórias, como mera espectadora. Mas essas viagens são muito oníricas, mais virtuais que a internet. E quando estou assim, feliz para fora de mim mesma, escapulo deste mundo particular e preciso encontrar uma companhia, uma voz, uma acolhida, para esses breves momentos de liberdade condicional.
Quando não estou com minha cria, ou enquanto os crio, preciso de material, de papo furado, de uma centelha de vida. Um evento ordinário qualquer que preencha várias linhas de devaneios. Quando estou em meu universo sou muito feliz, sou integral, mas também sou muito só. Não que sinta solidão, apenas me isolo, e ninguém é capaz de me tirar do torpor do instante.
Então quando saio de mim, quando retorno ao cotidiano externo, e ainda por cima, com o bom humor que estou hoje, o que é que faço se não tiver ninguém com quem dividi-lo? Vou para o boteco mais próximo, para aquele que o garçom me reconhece? Puxarei um papo com quem quer que esteja ao lado, tomarei uns drinques, uns chopes, talvez uma sangria. Com certeza comerei uns pasteis. Quando estou de bom humor sempre saio da dieta. Dieta não combina com a alegria.
Quem sabe uma fila de banco, daquelas bem cheias, de banco estatal? É fácil arrumar assunto, começaria reclamando da fila e em dois segundos meu mais novo amigo estaria me contando todos os seus problemas. E ainda tem ar condicionado, senha e banco para esperar sentado. Teria que me manter muito atenta, e me esforçar para não tentar anotar, pois se fosse começar a escrever o que ele fala, poderia desconfiar ou estranhar. Então teria que prestar muita atenção para não esquecer nada depois. É sempre muito boa fonte para um drama.
Mas hoje, especialmente hoje, não quero dramas, quero alegria, sorrisos, novos amigos, novos personagens. Quero colorir em cores boas, e refrescar o dia, para contrastar com os últimos tão marrons, cinzentos, quentes e tristes demais. Então talvez, quem sabe a praça? Muitas crianças, babás e donos a serem passeados por seus cachorros. Posso levar as minhas cachorrinhas e arrumar uma desculpa para uma conversa sem sentido e sem responsabilidades. Talvez até uma fofoca! Mesmo que seja alguém desconhecido.
Na praça também encontraria muitos senhores e senhoras, jovens de espírito e grandes em experiência, sempre boas histórias, atuadas ou contadas. Sentaria sob alguma árvore, curtiria a sombra, a paisagem e as pessoas. E quando estivesse satisfeita, já completamente renovada, meu bom humor devidamente compartilhado e saciado, estaria aqui, mais uma vez, fantasiando o que vivi, descrevendo o que senti, de volta ao meu mundo imaginário.
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