Pessoas más são interessantes, complexas e intrigantes. Erico Veríssimo, através de uma personagem de "O Tempo e o Vento", diz que é muito fácil ser bonzinho, o difícil mesmo, o que requer mais coragem é praticar maldades. Para ser mau, um precisa ser dois, precisa ludibriar, fazer parecer, agir por trás, ter duas caras, fazer pacto com Deus e o Diabo. O bonzinho, não, basta ser ele mesmo, verdadeiro aos seus valores imutáveis, sempre certinho, previsível, manipulável, chatinho, chatinho.
Por mais maniqueísta que possa parecer, assim são criados os personagens tradicionais. Mas a arte não consegue imitar a vida tão bem quanto a vida imita a arte. De fato, alguns fatos verídicos são tão surreais que não são traduzíveis em arte, fica parecendo invenção inverossímil, e por causa disso, muito vilão da vida real perde metade de sua vilania quando transposto para um livro ou um filme.
Porque ninguém é mau o tempo todo, assim também como ninguém é todo bom. Não na vida real. Vilão também chora, sente medo, dor, saudades. Mocinhos também têm inveja, rancor, mentem. Como Arnaldo Antunes diz em sua música "Sabia", todo mundo já foi neném, teve infância, medo, pai, mãe e todo mundo vai morrer.
Tendo isso bem estipulado, o autor escolhe sobre o que ele prefere escrever: romances, vampiros, poesias, mistérios, auto-ajudas ou qualquer outro gênero, desde que seja possível transmitir sua marca, sua visão e seu estilo. Eu gosto de escrever sobre o bem, o bom, o gostoso, a alegria, o amor e a felicidade. Ainda não senti necessidade de colocar um vilão nas minhas histórias, pois em minha opinião, o vilão já está batido, aparece todo dia na capa dos jornais, nas novelas, no trabalho, no dentista, dentro de nós mesmos ou do nosso ladinho.
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