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Por Que Sou Tão Pacífica?


Preciso me revoltar! Indignar-me! Cerrar os punhos e chamar para a briga. Matar de vez a Pollyana que existe em mim.

Mas aí vem o sol – esse bendito e maravilhoso sol – que aquece o corpo e refresca a mente. E para piorar, é primavera no Rio de Janeiro. É Rio de Janeiro, é sol, é brisa fresca do mar, enfim: quem é que consegue ficar revoltado num cenário assim? Dá sede, bebo um coco. Budaquibariu! Quem foi que colocou adoçante nesse coco? E pronto, minha última gota de indignação vai por água de coco abaixo. 

Alguém passa com o rádio ligado e nem me importo se está alto demais, pois a música inunda minha cena com a trilha sonora perfeita. Gil já sabia das coisas há muito tempo: isso aqui continua lindo. O sol, a brisa, a água de coco docinha, a música perfeita, o sorriso das razões do meu afeto, a união, a harmonia, o bom dia do estranho que deve estar tendo a mesma epifania, e pronto, está aí a razão, agora entendo, do brasileiro ser tão pacífico. Achamos que já estamos no paraíso. 

Acomodei a revolta no último lugar da fila dos meus pensamentos e fui curtir o dia lindo. Vou deixar para ficar indignada num dia de chuva qualquer. Isso é, se não me der preguiça e vontade de ficar em casa sob o edredom tomando vinho, comendo brigadeiro de colher e vendo televisão bem acompanhada. 

Comentários

Janete disse…
Parabèns, gostei muito do texto.Não mate nunca a sua POLIANA
denize disse…

Pequeno que diz muito, Irina. Muito bom! bjs, Denize

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