A instituição familiar é como um emprego, você vai galgando degraus, subindo de postos, ganhando um pouco mais, fazendo um pouco menos, pode ser promovido, pode ser demitido, pode até pedir demissão.
O primeiro posto é o de filho, ou filha, não há diferença nos gêneros, apenas funções. O filho é como um estagiário, ele acha que faz muito, que ganha pouco, que abusam da boa vontade dele, e que ele é importantíssimo para o funcionamento da empresa, embora não contribua significativamente. Tão pouco tem idéia que às vezes dá mais despesa que lucro para a empresa, ou melhor, família, e sempre tem a desculpa que no caso dele, o mais importante é estudar, não trabalhar.
Depois o filho vira marido, ou esposa, é a segunda etapa, primeira promoção, após um curto (ou longo, depende de cada caso) tempo como namorado trainee. Aí o filho vai fazer tudo o que sempre quis fazer quando ainda era pau mandado e tinha que obedecer ao seu pai e mãe. É ele que paga as contas, então pode comprar quanto de doce quiser. É ele que estabelece seus horários, então pode gastar todo o fim de semana só no lazer. Claro que essa rebeldia tardia dura o tempo que a responsabilidade permitir, pois os brinquedos dos maridos são mais caros, e o marido não tem mais o financiamento do pai (pelo menos a maioria não), precisa ganhar seu próprio dinheiro, se auto-sustentar, e sustentar a família.
Enquanto a família for só ele e a esposa, tudo bem, é mais fácil, principalmente se a esposa trabalhar também, mas a instituição padrão familiar evolui invariavelmente ao próximo degrau hierárquico, e portanto, o marido passa a acumular a função de pai – trabalho e custos duplicados, com o mesmo salário, só o nome do cargo que é diferente. É como quando passamos de coordenador para gerente, a diferença é muito pouca, mas o trabalho aumenta. Muitas vezes, inclusive, o marido, quando é promovido a pai, passa a ter menos visibilidade dentro da empresa, quero dizer, família, pois as atenções se voltam para o recebimento e “treinamento” do novo estagiário, quero dizer, filho.
O tempo passa, e a família, quando consegue vida longa, não dissolução, falência ou liquidação perdura como empresa sólida, um tanto quanto autárquica e retrógrada, mas segue firme como instituição, com seus cargos, funções e salários defasados e estagnados, mas segue. E como segue, acaba evoluindo em filiais, novas famílias criadas pelos filhos estagiários promovidos a maridos, e subsequentemente a pais. E na empresa matriz, o pai agora é avô, ou seja, é o diretor, aquela figura emblemática, que ninguém sabe bem o que faz, mas que manda no pai, senta-se na cabeceira das reuniões, todo mundo pede benção, mas todo mundo sabe que já não tem muita utilidade a não ser divertir os estagiários com histórias do seus tempos de filhos, maridos e pais.
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