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Mostrando postagens de março, 2012

Pesquisa Científica

Essa semana li uma reportagem que muito me alegrou o coração: “pipoca ajuda a combater o envelhecimento”! Fui correndo para a cozinha e preparei uma bacia enorme de pipoca na manteiga. Devo ter rejuvenescido uns três anos, pelo menos. Eu levava muito a sério essas pesquisas científicas, desde que elas não me fizessem levar a minha própria vida tão a sério. Só gostava daquelas que davam sabor e prazer ao meu dia a dia. A melhor de todas foi sobre a descoberta que álcool traz saúde e longevidade. Se for vinho então, melhor ainda. Levei a pesquisa tão a sério que um dia quase me tornei imortal, mas no dia seguinte a ressaca me mostrou direitinho a minha proximidade à morte.  Todas essas notícias sobre pesquisas de ponta são muito animadoras. Ontem mesmo, por exemplo, li sobre uma pesquisa que fizeram com mais de mil pessoas e determinaram que dentre essas, as mais magras comiam mais chocolate. Maravilha! Logo pensei, e aproveitei para pegar a barra que estava escondida no fundo da g...

O Mundo Encolheu

O mundo é tão grande quanto a nossa ignorância. Quando jovens, sentimos como se ele fosse infinito, sabemos tão pouco e imaginamos tudo grandioso. Os pais, os amigos, os amores, tudo à nossa volta, são sempre os melhores e maiores. Mas conforme crescemos, experimentamos e aprendemos, as fronteiras e os espaços por elas delimitados vão se estreitando. O mundo começa a encolher.   Já nos anos 90, o ano 2000 parecia uma data longínqua que guardava o fim do mundo por causa de um bichinho que ia infestar todos os computadores e acabar com a economia e a ordem mundial. Parecia uma data que não ia chegar nunca. O filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço, vislumbrava um avanço tecnológico para o período que dava a sensação de que nem em cem anos alcançaríamos aquele nível de futurismo, fazendo o novo milênio parecer ainda mais distante, intangível. Hoje, passados mais de dez anos da data do título do romance e filme, o que parece mais improvável é como fomos capazes de viver nos anos 80 e 90 s...

Crise Existêncial

De repente ela se sentiu completamente obsoleta, como um guarda-chuva no verão. Lutara tanto para dar àquela casa um jeitão de lar, que agora como um organismo, funcionava muito bem sem ela. Bem papel de mãe mesmo. Doeu para conceber, para gestar, para parir, para criar e agora ninguém precisava dela. Tornara-se, de fato, obsoleta. Caiu em desuso, como uma língua morta, alguém ainda se lembrava dela, mas ninguém sabia para o que servia.  Tentou durante alguns anos reinventar-se. Fez cursos, tentou uma nova profissão, uma nova arte, inventou que iria escrever. A tudo tentado era recebida com risos descrentes e críticas adolescentes avassaladoras. Tornara-se ridícula, tinha que aceitar seu papel de quadro encardido esquecido na decoração, e que só não fora tirado fora para não expor a marca na parede. Até que um dia, uma desilusão amorosa, um fracasso profissional, uma revelação de identidade oculta, e de repente todos precisavam dela. Marido, filha, filho, até a nora. E ela, releg...

Poema de Mãe

E se eu não existisse? A vida seria tão importante? Haveria mar, sol, luz e noite? Seria tudo igual, nada mudaria? E se eu não fosse real, haveria dissonância na música? Racionalidade no poema, tristeza na infância? Se eu sou tão importante assim, Porque seu mundo não muda Quando eu me vou? Quando não estou, Por que não faço falta? Pois você pra mim faz! Tudo fica sem sabor. O ar sem cheiro, A flor sem cor, O amor não dói. Tudo fica um nada. Nada fica muito. Nem bom, nem ruim, Só fica o vazio. Assim...

Duas Versões

Dois homens. Dois homens negros. Dois homens negros de bermuda preta. Atléticos, jovens, correndo. Dois homens parecidos, quase a mesma estatura, exatamente a mesma cor, mais ou menos a mesma idade, fazendo a mesma coisa: correndo. Um deles corre pela vida, pela saúde, pela vaidade, para se manter saudável, para se manter atlético, para se manter atraente. Por causa da cor, por causa do preconceito, já foi até parado durante uma de suas sessões de exercício, porque ninguém pode ver um preto correndo sem pensar que está correndo de alguém. O outro também corre pela vida, pela sua saúde, para não ser pego, não ser preso, não ser espancado. Sua cor denota sua origem, sua origem alimenta o preconceito, e por causa dele muitos outros pretos quando correm são confundidos, como no caso do primeiro homem.

Hiato

Breve pausa, descanso. Ausência leve sem saudade. Folga na imagem. Recanto. Menos que separação. Mais que um dia. Mas merecida, necessária e consentida. Nesse hiato, reflexões, definições e decisões. Muitas revisões. Importantes realizações. Algum plano, uma ou duas divergências e várias trilhas em perspectivas. No fim, apenas uma certeza: amor. Na partida, na saída e como fim. No pensar, no agir, ao escrever e até no transgredir. Por que não? A maldade é inteligente, esperta, leva vantagem, precisa de coragem. Até para ser covarde. A crueldade, o cinismo, a dureza são fortes, todos com ares de intelectuais, inteligentes, sabem mais, se dão bem. O amor não. É patético, bobão, babão, piegas. Fraco, fraco. Sente pena, se identifica, se entrega, se mata para salvar. Morre. Na dicotomia, a dúvida. De ser, representar, pertencer. Falar do mau, falar mal, ser piegas ou romântico. A polêmica ou o lugar comum. No antagonismo, o encontro, a personalidade definida, o achado. Depois do hia...