De repente ela se sentiu completamente obsoleta, como um guarda-chuva no verão. Lutara tanto para dar àquela casa um jeitão de lar, que agora como um organismo, funcionava muito bem sem ela. Bem papel de mãe mesmo. Doeu para conceber, para gestar, para parir, para criar e agora ninguém precisava dela. Tornara-se, de fato, obsoleta. Caiu em desuso, como uma língua morta, alguém ainda se lembrava dela, mas ninguém sabia para o que servia.
Tentou durante alguns anos reinventar-se. Fez cursos, tentou uma nova profissão, uma nova arte, inventou que iria escrever. A tudo tentado era recebida com risos descrentes e críticas adolescentes avassaladoras. Tornara-se ridícula, tinha que aceitar seu papel de quadro encardido esquecido na decoração, e que só não fora tirado fora para não expor a marca na parede.
Até que um dia, uma desilusão amorosa, um fracasso profissional, uma revelação de identidade oculta, e de repente todos precisavam dela. Marido, filha, filho, até a nora. E ela, relegada à invisibilidade, não se aproveitou para brilhar, reconquistar seu posto. Não, claro que não! Ela também já havia se acostumado à posição inerte, inodora, insossa e infeliz.
Com muito tato, muita sutileza, fez o que já havia feito anos atrás, quando ainda era a rainha do lar. Encaminhou a todos as suas soluções, fazendo que se encontrassem como se não houvessem tido a ajuda de ninguém, apenas dando apoio, disponibilizando um ouvido, passando a mão na cabeça, enxugando algumas lágrimas, apoiando decisões, tudo com muito enlevo, muita doçura, bolo quente e café forte.
Porque até um guarda-chuva no verão tem sua serventia, pois pode proteger mais que filtro solar.
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