E tudo terminou. É o Fim. O Fim com letra maiúscula. Acabou. A dor chegou, o sonho acabou, toda verdade virou mentira. Arrancaram o amor, cortaram com faca cega uma parte do coração, que agora sangra, sangra, dói, se esvai em lágrimas e arrependimentos. De tudo o que disse, que prometeu, que acreditou, que planejou, que não falou. E dói tanto que parece mesmo que o Fim na verdade é um começo, o início de uma penitência, de um castigo infernal. Não é possível vislumbrar que o Fim também tenha um fim, que um dia ele acabe, deixe de ser importante, e vire pedra de transposição. E quando mais a frente, bem longe desse Fim, lembrarmos tudo o que foi antes, durante e depois dele, acharemos graça dos exageros, saudades dos momentos felizes, e gratidão pelo o que foi e não foi, pelo o que deixou de ser.
Porque no fim das contas, tudo chega ao fim, mesmo quando não acaba. A paquera passa, começa o namoro. Do namoro, se vingar, vem o noivado, do noivado o casamento, no casamento a lua de mel, que dura pouco, e aí começa a rotina, que muda com a chegada dos filhos. Os filhos crescem e é o início de outra rotina, a anterior também se extingue. E após os filhos, novas etapas, novos recomeços. Os filhos vão, e junto com eles, a juventude. E enfim vem a velhice, que remete a outro fim, o da vida. E se não formos tão convencional, a ordem pode ser trocada, e começarmos pelos filhos, deles partirmos para a paquera, ou sem paquera, sem namoro, podemos ter um casamento, nenhuma lua de mel, talvez até mesmo um namoro seguido de uma separação, nada de filhos, nada de velhice, outra puberdade, outra juventude, ou uma eterna velhice. No fim, a única coisa em comum em todos os processos é o fim, porque na verdade não somos exatos, não temos cantos, nem ângulos retos, nem precisão. Somos redondos, somos circular, somos cíclicos.
Para quem é religioso e para quem não é, o fim é sempre o recomeço, é quando zeramos o contador, quando partimos para o novo, pela primeira vez ou de novo, nem que o novo seja o mesmo, mas de uma outra forma, com outra bagagem, mais cicatrizes, menos expectativas, porque precisamos tentar, e tentar, e tentar novamente, que a vida faça sentido, que sejamos ordinariamente extraordinários, espetacularmente comuns, prosaicos e inovadores, e para vivermos tudo o que nos foi prometido nos romances, fantasias, propagandas e músicas que ouvimos e vimos durante toda a nossa curta vida. Porque só não tenta de novo quem desistiu, quem perdeu as forças, a esperança e a vontade de ser feliz novamente, de ser amado de novo, de amar mais uma vez, de viver intensamente cada oportunidade que nos é dada ou conquistada.
Por isso o Fim é tão importante, porque conclui, sela, define uma porção de vida, uma história, uma etapa. Por que renova e nos reforça, nos ensina e prepara para algo maior, algo melhor, algo novo, ou algo de novo. O Fim, quando devidamente posicionado, vai definir se a sua história teve final feliz ou não, porque só pode ter final feliz o que acaba bem, mas que deveras acaba. E como diz a sabedoria popular, se não está bem, é porque ainda não acabou. Então encaremos o Fim de cabeça erguida, disposição para sublimar a dor, nem que seja através da dor, até que não haja mais dor para doer, e desse ponto só nos restará ser feliz. Até o Fim.
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