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Amor de Literatura

Chegou sorrateira, disfarçada em quadrinhos, cheia de gráficos e cor, mas foi o início de um grande amor. Aos poucos fui percebendo que a “embalagem” me importava menos que o conteúdo, e passamos para um envolvimento mais profundo, com mais palavras, menos roupas e enfeites. Ouvi-la também era interessante, mas sempre me dava impressão que eu estaria ganhando mais se estivesse cara a cara com ela. Não consigo identificar quem foi o responsável por me apresentá-la, ela me abordou de várias maneiras, era mesmo uma batalha vencida, não teria como escapar.

Tivemos muitos momentos importantes, alguns de amor extremo, outros de revolta e brigas, cheguei a me afastar por alguns dias, acho que o máximo que agüentei foram cinco. É que por vezes era difícil compreendê-la, ela me surpreendia, mas também às vezes me decepcionava. Depois, sempre me deixava com a impressão que a culpa era minha, por não ter conhecimento o suficiente para entende-la. Me tratou muito mal, me fez chorar inúmeras vezes, mas depois, invariavelmente me sentia bem. Determinado momento, perdi o critério e passei a encará-la de todas as formas, não me importava o formato, nem o estilo que estava usando naquele momento, queria estar perto dela do jeito que fosse, quase um vício.

Aí cheguei à minha fase adulta, precisava me sustentar e não podia mais ficar perdendo tempo com paixões malucas, precisava amadurecer. Para trabalhar, tive que me afastar por longos 8 anos, mas de vez em quando tinha uma recaída e ia visitá-la. Ao fim do sexto ano, a distância estava começando a afetar minha saúde, ainda lutei bravos dois racionais anos, sempre ponderando e medindo a conseqüência de voltar para ela. Pelo lado racional, nada pesava a favor, seria muito mais sensato manter o status e equilíbrio que havia alcançado. Mas não teve jeito, a paixão já era amor, já era oxigênio, precisava dela para viver, mesmo que pobre e sem posses, preferia ficar com ela e ser inteira e realizada.

Foi quando aconteceu o milagre. Bom, talvez não um milagre, mas digamos que recebi uma benção que me ajudou a tomar a decisão e voltar para ela. Um amigo me explicou que não adiantava fugir do seu verdadeiro amor, pois é esse sentimento que nos define, e nunca seremos felizes longe dele. É preciso arriscar e lutar muito para ficar juntos, e não desistir nunca do seu sonho de felicidade. O resto é conseqüência, pois quando o amor é verdadeiro, a recompensa vem, de uma forma ou de outra. Esse amigo era ela novamente, disfarçada, tentando me fazer ver o quanto eu também era importante para ela existir. Em minha busca descobri que o que me impedia de estar com ela era minha própria insegurança, meu medo de rejeição.

Tomei minha decisão! Reformulei minha vida, larguei meu emprego e decidi viver desse amor. Nem que sejamos solitários, e ninguém mais queira compartilhar nossa felicidade, eu sou dela, não me importa mais. Eu vivo por ela e para ela. Me tornei ela, agora sou L I T E R A T U R A! Agora sou L A R A R U T T I E!

Rio, 06/07/10

Comentários

Leitores do Mira disse…
Seu blog tá lindo, Irina!
E para com esse papo de humilde, porque de humilde não tem nada. Tá chiquérrimo e cheio de textos deliciosos de se ler.
Parabéns.
Vou visitá-la com frequência, ok?
Bj grande,
Adriana Pilar
Adorei esse texto!

Beijos,
Verônica.

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