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Mostrando postagens de setembro, 2011

Dia a Dia

Abre os olhos e sorri. Mais um dia, mais uma vez, mais um pouco da alegria. Sai para trabalhar, enfrenta trânsito, mau humor, injustiças, muito trabalho, pouco dinheiro, mas se sente rico no amar, na sorte, na fartura, na saúde e no espírito. Está com suas responsabilidades atendidas, não deve nada a ninguém, não sofre com ansiedade, pois ama tudo o que tem, e só deseja mais condição para aproveitar melhor sua vida, daquele jeito mesmo, sem maiores melhorias. Passa o almoço, metade da tarefa está comprida, agora é esperar o tempo trazer o momento de finalmente voltar para seu recanto, onde se sente dono, se sente quente e seguro. Com um olho no relógio e o outro no pensamento, leva no automático a condução das suas obrigações, tão mecânicas que não carecem de maiores concentrações.

As Fases Ridículas do Amor

Amar é bom. Amar é muito gostoso. Não há nada mais emocionante que o início de um relacionamento, a começar pela paquera. Aquele suspense antes da realização da conquista só é menos excitante que o primeiro beijo. Ah, o primeiro beijo, este então é irreprodutível! Como mimetizar aquela sensação eletrizante quando finalmente os corpos se aproximam e é possível sentir pela primeira vez a respiração e o hálito do outro, os lábios se tocam e finalmente o corpo inteiro se arrepia com a sensação de descoberta. E quando os beijos se encaixam, então? O desejo até aumenta, porque beijo bom é sinal que o resto vai ser bom também, é como prenúncio de afinidade química, indicando que o que vai rolar depois também vai ser maravilhoso. Mas isso tudo é só o começo, é a parte da paixão, do efêmero. Depois, quando a paixão vigora e vira relacionamento sério, e esse relacionamento dá certo e vira amor, começam as fases ridículas do amor, e com ela as bobagens que adoramos. A primeira fase é a da de...

A Dor da Borboleta

A menina um dia acordou e se sentiu diferente. Olhou para as bonecas e não deu bom dia, olhou para o espelho e não se reconheceu. Não era dia de aula, não tinha que levantar, por isso não abriu a porta e ficou na cama tentando decifrar o que estava diferente naquela manhã. Sua cabeça estava confusa, ela tinha vontade de chorar, sentia saudade de algo ou alguém que não sabia bem o quê ou quem. Pensou com raiva no coleguinha da escola que vivia implicando com ela, chamando-a de Air Bag, matando ela de vergonha todos os dias. Pensou com raiva, mas a raiva se dissipou em tristeza e começou a chorar. Não que estivesse com vontade, mas não conseguia controlar. Resolveu levantar, foi para sua penteadeira e ficou se olhando no espelho. Olhou longamente o rosto refletido, o qual já não compreendia mais, depois resolveu estudar o air bag, que tanto a incomodava. Chorou mais um pouco. Olhou de novo para as bonecas, agora com tristeza, já sentia saudades delas, mas não as via mais com a mesma gr...

Uma Vida em Quatro Parágrafos

Nasceu velho, não porque era enrugado como qualquer outro bebê, mas porque já recém nascido sofria a dor da responsabilidade de estar por sua própria conta. Quando precisou, gritou o mais forte que conseguia com seus pequenos pulmões mal formados para ser ouvido de dentro do latão de lixo onde fora largado. Foi socorrido e levado a um hospital, sua condição batida de bebê abandonado não cativava mais a mídia como dantes, bebês eram abandonados quase que diariamente agora, a notícia era velha, portanto não recebeu nenhum tratamento especial, ficou no hospital somente o tempo necessário para ser levado por uma família provisória, até ser adotado definitivamente. Cresceu pulando de lar em lar, buscando a adaptabilidade. Sua personalidade forte não aceitava ser forjada por nenhum tipo de educação ou religião, assim era constantemente mudado de família, até que finalmente foi parar em um lar para crianças órfãs, onde finalmente encontrou seus pares e começou sua gangue. No caso dele, a vi...

Mensagem no Celular

Quarta-feira, sete horas da manhã, tocou o despertador na rádio preferida deles. Estela não teve coragem de abrir os olhos. Suspirou fundo ao perceber, quase dois minutos depois, que ainda aguardava pelo abraço costumeiro e o beijo de bom dia usual. Não viriam mais. Quis que estivesse acordando de um pesadelo, mas sabia que o pesadelo começaria quando ela se levantasse. Ao invés disso, jogou o despertador contra a parede e continuou por mais uma hora na cama, de olhos fechados, chorando em silencio. Estela estava decidida a não acreditar que o mundo, a vida, o trabalho e tudo mais continuaria depois da partida de Luiz. Seu único alento era acreditar na eternidade da alma. Seu conforto que se ele partira era porque já havia cumprido sua missão nesse planeta, portanto não morrera, apenas evoluíra. Sua única esperança que ela também partisse em seguida, a seu encontro. Mas toda sua fé não a havia preparado para ir depois dele, nunca vislumbrou viver sem seu grande e único amor, simplesmen...