Abre os olhos e sorri. Mais um dia, mais uma vez, mais um pouco da alegria. Sai para trabalhar, enfrenta trânsito, mau humor, injustiças, muito trabalho, pouco dinheiro, mas se sente rico no amar, na sorte, na fartura, na saúde e no espírito. Está com suas responsabilidades atendidas, não deve nada a ninguém, não sofre com ansiedade, pois ama tudo o que tem, e só deseja mais condição para aproveitar melhor sua vida, daquele jeito mesmo, sem maiores melhorias.
Passa o almoço, metade da tarefa está comprida, agora é esperar o tempo trazer o momento de finalmente voltar para seu recanto, onde se sente dono, se sente quente e seguro. Com um olho no relógio e o outro no pensamento, leva no automático a condução das suas obrigações, tão mecânicas que não carecem de maiores concentrações.
Anoitece, finalmente, as oito horas cumpridas, larga a caneta antes que o relógio termine de bater as seis badaladas imaginárias. Já está a caminho de volta para casa. De novo o trânsito, mau humor, injustiças, muita falta de educação, pouca paciência e muita grosseria. Nada importa, está impermeabilizado. Desce do trem e passa na mercearia, sempre volta com algum presente, um bombom, uma revista, algo que simbolize que a presença dele é mais que tudo o que já é, é mais que a alegria que traveste, é também carinho, doçura e bonomia.
E assim, tão simplesmente, aproveita seus dias na mais completa rotina, que a primeira vista pode parecer tediosa, simplória, repetitiva e sem ambição, mas nada o convence de que esta não é a melhor forma de aproveitar, dia a dia, o maior milagre que já viu na vida, o maior privilégio que jamais julgou que pudesse ter, ver crescer sua cria, seu próprio sangue, sua cópia e sua continuidade. E assim, tão simplesmente, vive seu dia a dia desempenhando o maior papel que o designaram na vida, ser pai de família.
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