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Fábula Verídica em um Rio Africano

Ungulados são animais de uma antiga classificação científica, que assim dividia os mamíferos de acordo com seu casco. Ungulados são os cavalos, os gnus, os bois e os hipopótamos, entre outros. Com um, dois ou três dedos, eram todos herbívoros, mas nem todos pastavam. Caído o uso da tal classificação, mamíferos ainda assim são chamados de ungulados, mesmo que alguns também habitem os mares.

Interessante compreender a relação entre os seres vivos e perceber o quão próximos estamos um dos outros. Mesmo se herbívoros ou carnívoros, terrestres ou marítimos, todos de alguma forma descendemos de uma mesma origem. Não que sejamos todos ungulados, mas somos todos animais. E com muitas similaridades, sem dúvida, embora tão improvável. Observamos e estudamos os selvagens e os domesticados e estamos sempre surpreendendo-nos com suas demonstrações de inteligência, afetuosidade, evolução e por que não, humanidade.

Pois esta semana, vejam que incrível, e não foi a primeira vez que eu vi tal espetáculo, numa savana africana, dois ungulados distintos, deram mostras de solidariedade, quando um Gnu, em um sufoco sendo arrastado por uma tromba d’água, se viu socorrido por seu primo, o nem tão distante hipopótamo, que com sua presteza aquática e seu volume corporal, sua força e mordedura, mais poderosa que a de um leão, tentou em vão amparar, segurar e salvar o pobre bovídeo, que não é indefeso e também tem o seu poder, mas mesmo com forças aliadas não foram suficientes para vencer a força da água. E o gnu foi infelizmente arrastado, sumindo sob a correnteza.

Pensei em escrever esta história em forma de fábula, que muito embora não tenha um final feliz, tem uma lição de moral, onde animais de raças diferentes se unem ante a tragédia, ultrapassando suas diferenças e se importando apenas com a continuidade da vida, que é o que realmente importa. E me remeto imediatamente a uma tragédia mais próxima, onde tantas outras demonstrações de solidariedade e humanidade foram testemunhadas. Me leva questionar o quanto de nossa humanidade é inerente de nossa natureza animal e agradecer por nossa origem em comum.

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