E foram felizes para sempre. Já tinham passado por muitos problemas até ficarem juntos. E felizes. Esta é a história depois do final das outras histórias. Nada mais iria dar errado, a vida seria uma sucessão de dias, com ou sem rotina, esperando a velhice e a morte, que para eles, era apenas transcendental, uma passagem, para um mundo melhor ainda. Cada dia era mais uma benção, na medida certa, nem muito, nem pouco, o suficiente para todos os dias sentirem o peito palpitar com a alegria calma das pessoas essencialmente felizes.
Não é necessário descrever toda sorte de desencontros e infelicidades que tiveram no passado para justificar a paz e alegria na qual viviam agora. Era merecida. Não era exagerada, suntuosa, exacerbada, exibicionista ou ostentadora. Amavam-se com a alma, com a razão, além das sensações frívolas da paixão. Amavam-se religiosamente, em rotina, como em oração, mas sem rituais mecanizantes. Amavam-se com a segurança do amor verdadeiro e incondicional.
Cada mínimo detalhe de sua vida em comum e de seu relacionamento havia sido conquistado com trabalho honesto, contínuo e com o prazer de quem ama o que faz. Aquele amor era um trabalho que amavam e ao qual se dedicavam com o afinco de um artista se dedicando a sua obra prima. Seus corpos já se reconheciam no escuro, já se encaixavam na cama, no abraço e no beijo. Seus cheiros se moldaram e eram agora moléculas idênticas, não se estranhavam mais. Mantinham o mistério e o romance, até nas ações mais cotidianas, só para terem o prazer de descobrir cada segundo novo, um ao lado do outro, um ao outro. Algumas vezes, inventavam pequenas rusgas, só para poder viver a delícia da reconciliação. Seus sonhos eram planejados em conjunto e conquistados, pedra a pedra, também em conjunto. Caminhavam juntos, derradeiramente, qualquer a direção que fosse.
E dessa forma, fugindo à regra do amor platônico, do amor que só é contado porque não se consumou, o amor feliz transitava pela vida, pelo dia a dia, quietinho, à mineira, para que não o invejassem e não tentassem desmitificá-lo. Transitava pela vida e pelo dia a dia, disfarçado de banal, disfarçado de casamento.
Comentários
Bom começo de blog, abraços.
Saudade de nossas partilhas textuais.
Bj grande,
Adriana, Pilar.