Meus queridos nove seguidores (pai, mãe e marido inclusos) sabem que travo uma batalha pessoal contra os ônibus e volta e meia estou a escrever crônicas mau criadas e sarcásticas a respeito deste tão temível meio de transporte público. Acontece que estou em uma situação interessante, e pela primeira vez na vida felicíssima de estar barriguda. E acontece também que esta situação tem o poder de mudar a personalidade dos injustiçados (por mim) motoristas de ônibus. Alguma coisa na mulher grávida amolece o coração do mais terrível deles. Tem sido realmente uma surpresa agradável perceber a preocupação deles comigo, que cresceu proporcionalmente com a minha barriga.
A primeira mostra deste “cuidado” me pegou tão de surpresa que quase que não entro no ônibus. Eu estava distraída aguardando minha vez de entrar quando de repente percebi que o motorista falava comigo. Parei estupefata com o contato imediato e como não estava prestando atenção antes pedi para repetir. O motorista então disse: “não, não, não, não”. Isso mesmo, uns quatro ou cinco nãos. Pensei imediatamente “Pronto! Esse leu uma das minhas crônicas!” E já ia me virando para descer do ônibus e tentar o próximo, já também pensando na próxima crônica devastadora, quando a surpreendente criatura gritou lá do alto do seu trono: “entre por trás, minha filha, não queremos ver essa barriga entalada na roleta!”.
Um misto de incredulidade com arrependimento me invadiu. Como podia ser que o mesmo tipo de ser vivo que já havia tentado me matar coletivamente de susto e raiva agora demonstrava tanto zelo e ternura. Quase me emocionei. Segurei a barriga, entrei por trás e fui pagar a viagem. Agradeci, sentei e olhei bem para o rosto do gentil condutor. Quase lhe perguntei sua escala, para tentar andar só com ele, mas me faltou um pouco de sem-vergonhice.
E desse dia em diante passei sempre a perguntar antes se podia entrar pela porta de trás, e sempre recebi respostas afirmativas e simpáticas, até que passei a entrar direto, sem perguntar, já totalmente prepotente no alto dos meus oito meses (incrível como nos acostumamos rápido com a paparicação e vantagens). Até que um dia levei um susto. Entrei em um desses ônibus que nem cobrador tem mais e o motorista tem que fazer tudo sozinho. Costumam ser os mais mau humorados. Estava acompanhada da minha mãe e ela já tinha entrado e pago as passagens, e eu entrei por trás sem perguntar e parei no meio do ônibus assustada com a cara do motorista, que me encarava pelo retrovisor e ainda não tinha saído com o ônibus. Dei meia volta achando que era para eu descer, sei lá, talvez ele tivesse ficado chateado porque eu não havia pedido “por favor”, ou algo assim. Pois era o que eu estava fazendo, saindo do ônibus, quando minha mãe me chamou e explicou: “ele está esperando você se sentar”.
Fiquei perplexa! Estou até hoje. Por isso, dedico a crônica desta semana a todos os motoristas de ônibus atenciosos e bem educados. Que eles se proliferem!
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