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Mostrando postagens de 2010

Insônia

Quanto ainda me resta a dizer que não senti por você. Esse amor está me corroendo, mas não de agora, de vidas passadas e almas penadas, essa dor me engasga, me sufoca e me enrosca em noites infinitas e aflitas, como um bom horrível filme de terror. Tenho toda uma realidade independente deste sentimento, deste encosto, no entanto não sei como vivo, se vivo, se sou. Não sou quem irá dizer que você é meu grande amor, mas sei que algo imenso entre nós foi, longe, longe, bem distante, onde não me lembro mais. Tão desconexo quanto este calor em meu peito, ou seios, não sei, talvez platônico, talvez carnal, são esses anseios traduzidos em texto, tão misturados, tanto receio. De quê, não sei, meu Deus! Mas assim é, só assim sei sentir. O amor.

O Casamento

Esta é uma história insólita, mas até mesmo por isso, merece ser contada. Nossa rotina tão dura, onde os relatos de casos violentos que ocorrem diariamente parecem ser até mais inverossímeis, merece uma fábula insólita, leve e inocente. E assim é esta nossa história. Nossa história começa em um dia de grande movimento turístico no Corcovado. Lá estava nosso herói Cris, como eu o chamo na intimidade, magnânimo, altivo e impassível a toda a comoção e flashes. No fundo, muito entediado. Passado o afã de sua eleição a uma das sete novas maravilhas do mundo, estava de volta à sua rotina enfadonha. Nem a vista estava inspiradora nesse dia. De fato, estava um pouco nublado.

Impressões sobre viagens II

Milonga Miaperta e Mileva Daqui Quinta-feira em Buenos Aires, dezoito deliciosos graus aquecidos com vinho no café, no almoço e no lanche da tarde, havia chegado a hora de sacudir o tanino numa noitada tipicamente portenha. Nada de show lasveguiano de malabaristas imitando tangueiros. Queríamos a realidade, a verdadeira arte de los hermanos. Não queríamos confiar no duvidoso guia escrito em inglês, então fomos perguntar aos nem tão simpáticos recepcionistas do nosso hotel. Estava confirmado o programa da noite: Grán Salón Canning, a milonga mais tradicional de Buenos Aires. E para lá fomos, ávidos e curiosos. Talvez até arriscássemos uns passinhos.

Impressões sobre viagens I

Reflexões sobre uma visita ao prédio mais antigo de Buenos Aires. Plantas no jarro são como pássaros na gaiola. Ainda me impressiono com a magnitude e a magnificência das construções Quinhentistas, Seiscentistas, Setecentistas, e aí por diante, mas sempre me pergunto: Qual foi o preço? A que custo? Quantas vidas e a quanto sofrimento? Ainda hoje, o europeu manda e o Índio serve. O branco é o dono e o negro é pobre. Resta-nos ao menos o consolo que todo sofrimento serviu para eternizar as obras que hoje nos encantam e que duram já mais até que este nosso próprio mundo moribundo.

Humor Octogenário

Mau Humor Octogenário Acordar e me arrumar! Arrumar coragem. Encarar tudo de novo, mas nada é novo, tudo é velho, eu sou velho, me sinto velho. Os filhos estão criados, mas os problemas continuam, agora há os netos. Estou aposentado, mas ainda trabalho e me preocupo com vencimentos e compromissos. Estou cansado. Acordar, trabalhar, dormir. E ter que acordar de novo. É cansativo. Todo dia, tudo de novo.

Da Sacada

Daqui eu vejo árvores, vejo a praia e vejo o céu. Ouço carros, passarinhos e aviões. Sinto o sol me aquecendo, o vento refrescando, às vezes a chuva vem molhar. Neste pedaço tão curtinho, nesta hora demorada, tem poesia, tem banquinho e Corcovado. Só não tem você. Nem violão.

Presente de Aniversário de Dez Anos

Iria completar 10 anos e queria de presente um passeio pela Mesbla para comprar roupas novas. Só isso. Era pedir demais? Nem queria festa, só as roupas, mas umas dez peças, pelo menos. Já tinha pronta a lista. Seu pequeno núcleo familiar, composto dela, sua mãe, seu pai e o cachorro, viviam isolados do restante da família, mas as reuniões nos fins de ano ajudavam a realçar a diferença social em que se encontravam. Uma diferença que na verdade era apenas denotada por causa do arroubo intelectual prepotente do seu pai e dos delírios artísticos de sua mãe, mas de fato, seus primos tinham até mais fartura. Ou seja, viviam em um status intelectual e social não condizente com sua realidade, moravam na praia enquanto o restante da família era de Minas Gerais. Falavam inglês, liam livros, mas só, o nível era o mesmo. Essa era a idéia que teria de sua família e de seus pais, até o dia do seu décimo aniversário. Neste dia, ela recebeu um presente que iria mudar seu conceito para sempre.

Escrever é uma Delícia

Ser escritora é um prazer, pois escrever é uma delícia. Passar para o papel o inimaginável, Transformar idéias em vidas, Criar personagens e lugares, Brincar com as palavras e com a emoção. Sentir orgulho de tudo o que escrevo Como se fossem meus filhos. E todos primogênitos.

O Que É Bom

Adoro listas, sempre adorei. As faço desde que aprendi a escrever. É lista pra tudo: para o que eu gosto, para o que quero, para o que vou comprar, o que quero alcançar, livros a ler, filmes a ver. Muito antes do livro 1001 Lugares, os 1000 mais disso, os 1000 daquilo, eu já fazia minhas listas. Elas me dão uma sensação de que estou no caminho de conseguir o que quero e cada item alcançado me dá uma sensação de realização muito gostosa.

Encontro Improvável

Márcio saiu correndo do escritório, tentando fugir de Rodolfo, seu companheiro habitual de almoço, ia ser difícil despistá-lo, mas... Não teve jeito, deu de cara com ele no elevador. - Ué, Márcio, já tá indo para o almoço, mas ainda não são nem meio-dia? Espera um pouco, vou pegar meu paletó. Ei, onde está sua gravata, tirou para ir almoçar? - É, não, quer dizer: olha, Rodolfo, não estou indo almoçar, meu dentista abriu um horário agora, e estou indo para lá. A gente almoça amanhã. Tá calor, né! Por isso tirei a gravata. - Que calor, Márcio, tá 19 graus lá fora, nem parece o Rio! Dentista? Sei. Qual é, Márcio, me diz logo o nome dela? Você vai almoçar com alguma mulher, não é, fala a verdade. Pô, ela não tem uma amiga, não?

História do Amor Feliz

E foram felizes para sempre. Já tinham passado por muitos problemas até ficarem juntos. E felizes. Esta é a história depois do final das outras histórias. Nada mais iria dar errado, a vida seria uma sucessão de dias, com ou sem rotina, esperando a velhice e a morte, que para eles, era apenas transcendental, uma passagem, para um mundo melhor ainda. Cada dia era mais uma benção, na medida certa, nem muito, nem pouco, o suficiente para todos os dias sentirem o peito palpitar com a alegria calma das pessoas essencialmente felizes.

Amor de Literatura

Chegou sorrateira, disfarçada em quadrinhos, cheia de gráficos e cor, mas foi o início de um grande amor. Aos poucos fui percebendo que a “embalagem” me importava menos que o conteúdo, e passamos para um envolvimento mais profundo, com mais palavras, menos roupas e enfeites. Ouvi-la também era interessante, mas sempre me dava impressão que eu estaria ganhando mais se estivesse cara a cara com ela. Não consigo identificar quem foi o responsável por me apresentá-la, ela me abordou de várias maneiras, era mesmo uma batalha vencida, não teria como escapar.

Compras do Mês

Estava indo para um barzinho do Leblon com meu marido, numa bela sexta-feira de lua crescente, bonita e luminosa, para mais uma noite de drinques e petiscos com nossos amigos, quando, de repente, em uma das esquinas do bairro, fomos interpelados por um menino de cerca de nove anos. Até aí nada demais, é o que mais acontece nas cidades, grandes ou pequenas, de todo o mundo, aliás, salvo raríssimas exceções. Mas esse menino, Roberto, foi original em sua aproximação:

Nau Variante

Eu não escolhi você, Nunca te desejei, Não premeditei nosso encontro. Foi um acidente. Minha realidade era de metal E não havia razões para amá-lo. Mas uma mulher nunca consegue controlar seu caldeirão, Somos essencialmente coração.

O Tempo do Tempo

O tempo passa, cada dia mais rápido, o tempo voa; e eu preciso encontrar meu tempo, preciso conhecer meu ritmo, preciso me valorar. Preciso prezar a vida, preciso, preciso, preciso. Preciso ter o tempo preciso das coisas, do dia, da noite, do pulso. A vida, ah a vida! Ávida por um preciso precioso tempo que não pára. E se pára, não há vida, de ávida se foi, para onde não há tempo, nem preciso, nem ativo! Para o vazio, para o passado, que é o tempo que já passou.

Minha Luxúria

Meu luxo é o seu amor, Que me veste de rainha com seus abraços. Coloca sobre minha cabeça uma coroa, Quando afaga meu cabelo com suas mãos. Nossa aliança é na alma, mais brilhante que o maior diamante.

Rotina

Penumbra. É o dia que insiste em penetrar nosso quarto e nos tirar desse recanto soturno que criamos. Vejo primeiro a cortina negra com algumas nesgas de luz, que parecem cortá-la. Em seguida o edredom dourado pela meia luz, os vários travesseiros desmaiados de tal maneira que nossa cama parece um ringue. Tudo está pesado, meu corpo, o ar, sua respiração. Sua respiração! Me treinei para sempre acordar antes de você só para ver sua respiração. Seu corpo bruto de diamante mal lapidado oscilando todo como um pêndulo deitado. É esse movimento que me desperta todos os dias, não para o dia, mas para a vida. Fico estática, muda, paralisada por inteiro esperando você acordar. Sei que meu olhar te invade e incomoda, pois trinta segundos depois você se vira, joga os braços de grua em cima de mim sem piedade e me puxa para perto.

O Que Não É Crônica?

Domingo. Muita preguiça. Após o dia anterior inteiro dedicado ao amor, hoje me entreguei à doce melancolia do domingo. Tapete, almofadões, pijamas, meias, jornal, televisão, videogame e comida pedida por telefone. Brigadeiro de colher como sobremesa. O romântico foi gasto todo ontem. Assim deve ser comemorado o dia 13 de Junho, como se fosse o Dia dos Casados: caseiro, sem pompas nem romance, quase uma antítese ao Dia dos Namorados.

Quem sou eu - Primeiro dilema ao criar o blog!

Quem Sou Eu? Ora, e eu lá sei! Eu sou muitas. Estou aqui me procurando, me buscando, esperando que alguém me diga o que sou eu. Pensei que talvez vocês pudessem me dizer. Esse mar, que a partir de agora navego, é feito de mínimas migalhas de espelhos, e em cada uma me reflito. Neste universo acomodo minha constelação, pois não caibo em um só planeta. Sou uma mistura, heterogênea, insolúvel , indecifrável, e estou aqui para me achar na sua opinião, na sua própria definição. Mas já vou avisando, não sou quem você está pensando.