Semana passada saí com minhas amigas para uma noite só das meninas. Essas noites geralmente são regadas a muito vinho e muita malhação. Malhação aos maridos. Isso mesmo, nos encontramos para falar de nossos respectivos. Bom, de outros maridos e solteiros também, é claro. Sempre é muito divertido e fazemos muitas comparações. Normalmente, retorno à minha casa com vontade de bater no meu marido porque acabo inventando que ele não está me tratando tão bem quanto o marido de outra. Mas, às vezes, acontece o inverso e chego em casa muito carinhosa, dando graças a Deus por ele não fazer comigo o que o marido da outra fez com ela! Ele nunca entende e sempre pergunta se eu estou de TPM. Qualquer mudança no meu humor ele acha que é TPM.
Na última dessas noites, falamos muito da nossa infância, e de como sonhávamos com o príncipe encantado. Uma de minhas amigas ainda tem uma lista que ela fez quando tinha doze anos descrevendo as qualidades que o príncipe encantado dela teria que ter. Eu me lembrei de um namoradinho pelo qual fui apaixonada na juventude e que tinha todas aquelas características. Bom, não era bem namorado, eu o namorava, mas ele não sabia disso, era, confesso, platônico. Todas nós nos lembramos de algum namorado ou paixão que tivemos e idealizávamos como o nosso ideal de futuro namorado ou marido. Nenhuma se casou com o príncipe encantado que sonhávamos na infância. Nos casamos com ogros!
Mas veja bem, não que estivéssemos fazendo pouco caso de nossos respectivos, muito pelo contrário, apenas chegamos à conclusão que príncipes encantados não existem, ou se existem, não se casam com mulheres. O meu namoradinho platônico, por exemplo, hoje mora com um outro desses príncipes, super sarado e lindo de morrer, ambos com todas as características da lista da minha amiga. Se formos reparar bem, já nas estórias de infância o príncipe encantado demonstra a sua tendência metrossexual. Ele nunca participa das lutas, só aparece no finalzinho, sempre com aquele rostinho imberbe e perfeito, o cabelo como se tivesse acabado de sair de um tratamento de salão de três horas, as roupas super coloridas e bufantes, dão um beijinho super frio, mais sem graça que estalinho da Hebe, e pronto, dizem que assim a princesa segue feliz para sempre. Será?
Pois depois de avaliar, eu e minhas amigas chegamos à conclusão que nossos maridos estão mais para ogro do que para príncipe. E ficamos muito felizes com isso. Eles são muito mais reais que os príncipes, e muito mais divertidos também. Que príncipe te pegaria no colo e jogaria sobre os ombros quando quisesse te levar para cama? Os ogros são a personificação perfeita da frase ‘me abre, me fecha, me chama de gaveta’! Que príncipe te faz um carinho que te descabela toda e ainda borra a maquiagem passando a mão no seu rosto como se estivesse limpando um pára-brisa? E ogros não são frescos, não reclamam se você está com celulite, ou seu cabelo não está hidratado o suficiente, eles nem reparam se você cortou ou pintou o cabelo. Não temos que dividir o espelho enquanto ele admira seu próprio peitoral e barriga, o ogro fica admirando à mulher enquanto ela se veste, e em algumas situações até impede que ela termine de se vestir.
E os cuidados pessoais deles mesmos? É hilário! Cabelos, quando existem, são na maioria das vezes penteados com os dedos. Roupas, as melhores são as que damos para eles, pois as de solteiro são condenadas a uma vida curta assim que os conhecemos. Convencê-los a usar condicionador já foi um parto, mousse então, nem se fala. Dão gargalhadas quando tentamos fazê-los usar hidratante facial, e não gastam metade do nosso pote daquele hidratante super caro e importado. O assunto mais engraçado do mundo tem a ver com escatologias, invariavelmente. São crianças grandes, na maioria das vezes muito grandes e fortes. Chegam a ser brutos. Mas é certo que os brutos também amam, e os ogros amam muito bem, e ironicamente, são os ogros, não os príncipes, que nos fazem sentir como uma verdadeira rainha. Por essas e outras, que depois de sonhar e nos decepcionar muito correndo atrás do príncipe encantado, somos muito felizes com nossos respectivos ogros. E naquela noite, fomos todas felizes da vida para casa, e o meu marido até hoje me pergunta o que foi que bebi, porque ele quer fazer um estoque pessoal em casa.
Comentários
Sabe que o ogrinho que eu tenho em casa até que é bonitinho...
Bjs e saudade.
parabéns pelo texto, querida Lara
bom pra caramba
beijos!