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Por Onde Achas Que Andei?

Por onde achas que andei, que terras pisei,
Ou que barro se embrenhou por entre os vãos dos meus sapatos rotos?
Sabes por acaso da poeira que se entranhou em minhas rugas,
Preenchendo meus vazios, intoxicando meus pulmões?
Não sabes da minha vida um terço, nem sequer uma conta
Como então te atreves a me julgar pela capa, pela cara, pela roupagem,
Que no meu caso nem é bossa, é trapo, como eu.
Como podes querer que em meros meses
Me conheças mais que a mim mesmo em meio século?
Se soubesses por onde tenho andado, por onde calos me hão sido formados,
Talvez então um ínfimo do que sou saberias, entenderias,
Mas nem assim poderias com certeza afirmar,
Que meu ser transparente a ti te fazias, nem mesmo assim!

Posto que fundamental seja entender minhas andanças
O caminho foi apenas o meio para a mudança, não é a forma resultante em si.
Sou a mistura de terra e lágrimas, amassadas como cimento e água pelo caminho,
E que hoje sustenta a minha conjuntura, estrutura minha persona.
Sou fórmula acidental, contaminada pela influência radioativa
De todos que por mim passaram, amaram, lutaram.
Sou um produto complexo de uma equação inexata,
Tão complexo até mesmo para meu entendimento, minha própria compreensão.
Então como pode ser que agora me venhas com teorias
Para explicar por que eu sou assim, por que não sou assado?
Não tentes me definir, não permito tamanho cerco e limitação.
Não sou exato, nem constante, nem quadrado, nem redondo.
Não tenho forma nem ângulo retos
Sou onda de rádio trafegando pelo vácuo, amorfa, insossa e invisível.
Algumas vezes me ouço, outras apenas vago. E vago. Pelo vazio, vago.
Então te peço, com ternura, a irritação toda já esvaída.
Não me julgues, não me rotules, não me reduzas a síndromes ou patologias.
Mas se quiser, assim como eu, muito, me acompanhe.

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