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Mostrando postagens de outubro, 2011

Preconceito e Pensamento Corrupto

Ainda fico chocada quando ouço algum comentário preconceituoso. Não consigo compreender como no meio de tanta informação e diversidade ainda haja espaço para o preconceito, o separatismo, a prepotência da superioridade de uma raça sobre a outra. Não podemos supor a origem ou a predestinação de nada nem ninguém pela aparência, mas esse preconceito existe, infelizmente, e vai além da aparência. Alguns tipos de preconceitos já estão tão arraigados em nossa cultura que já viraram termos comuns de expressão do racismo que temos arraigados e nem sequer percebemos. Por exemplo cabelo ruim como expressão de cabelo crespo. Por que ruim? Ruim em relação a qual outro, o liso? Porque é o liso com o qual nos acostumamos depois de séculos de propaganda estética da classe dominante? Porque o liso é o predominante nas cabeças dos que escravizavam negros de cabelos crespos? Ora, olhemos pela ótica da biologia, da etnia, o crespo nada mais é que a adaptação evolutiva do cabelo para uma raça que habitou...

Pressa

Despertador insistente. Relógio adiantado para dar a sensação de atraso. Ducha gelada. Roupa de malha que não amassa. Rabo de cavalo. Maquiagem no elevador. Café expresso. Via expressa. Não tem elevador expresso? De desjejum o resto do biscoito do lanche de ontem. O computador já fica ligado. O monitor tá demorando a ligar. Dois segundos depois, os fones já estão a postos. O ponto começa a valer. Ligações começam a entrar. Lembrar de respirar. O texto está na tela. Contar dois segundos entre cada frase. Bexiga apertando! Quarenta minutos até a primeira pausa. Lembrar de pegar água para deixar na mesa. Colega está discutindo com algum cliente mau criado. Supervisor discutindo com colega. Hora do bandeijão! Massa com carne moída. Não tem que cortar, nem mastigar muito. Deixar bebida para o final, para ajudar a descer. Um chiclete sem açúcar para limpar os dentes.

Diários Falsos

Ela havia inventado uma nova brincadeira. Ela gostava de inventar brincadeiras, desde criancinha, sempre inventava uma nova forma de interação, um novo desafio, uma aventura inédita. Uma vez havia raptado o cachorro da amiguinha e colocado todas as crianças do bairro para procurar, quem achasse ganharia um prêmio. A amiguinha não gostou muito, mas toda a vizinhança se envolveu na busca. Acharam o cachorrinho no dia seguinte, desesperado de fome e susto, preso dentro de um quarto de uma casa abandonada. Sua mãe precisou prometer a mãe da outra menininha, dona do cachorrinho, que estava inconsolável desde o dia anterior que sua filha nunca mais se aproximaria da casa deles. Era muito inventiva, mas tinha um gosto exacerbado pelo risco, não media as conseqüências. Na adolescência, quem quase morreu foi ela própria. Já tinha a fama de inventiva e maluquinha, portanto não atendiam mais a todos os seus chamados, gritos de socorro, bilhetes de resgate ou qualquer outro truque imaginativo dig...

Sem Vergonha

Eu queria ser sem vergonha. Ou ter menos vergonha, pelo menos. Ter coragem de falar o que vier à minha mente na hora que vier. Não é não ter papas na língua, mas fazer o processamento antes, aplicar boas doses de diplomacia e expressar, de preferência, sempre com muito bom humor, o que estiver pensando, no momento que estiver pensando. Não quero ser sem vergonha para “dizer verdades”, criticar ou machucar ninguém. Minha avó já dizia muito bem: “se não é para falar bem, fique calada”; Gertrude Stein também dizia mais ou menos a mesma coisa: “se não for para escrever sobre coisas belas, não escreva.” Eu queria ser sem vergonha para contribuir para a melhoria do mundo, do meu mundo pessoal. Por exemplo: em uma das minhas deliciosas aventuras de ônibus pelas ruas do Rio – aliás, trafegar por esta cidade, seja a pé, de ônibus, de carro, de táxi ou de metrô é sempre uma aventura maravilhosa; de bicicleta então, é quase esporte radical, pura adrenalina – pois ia eu em um desses ônibus co...