Esta é uma história insólita, mas até mesmo por isso, merece ser contada. Nossa rotina tão dura, onde os relatos de casos violentos que ocorrem diariamente parecem ser até mais inverossímeis, merece uma fábula insólita, leve e inocente. E assim é esta nossa história.
Nossa história começa em um dia de grande movimento turístico no Corcovado. Lá estava nosso herói Cris, como eu o chamo na intimidade, magnânimo, altivo e impassível a toda a comoção e flashes. No fundo, muito entediado. Passado o afã de sua eleição a uma das sete novas maravilhas do mundo, estava de volta à sua rotina enfadonha. Nem a vista estava inspiradora nesse dia. De fato, estava um pouco nublado.
Pois eis que seguia Cris em sua rotina de ponto turístico, quando um visitante alto, muito branco, de bermuda cargo e camisetão, deixou cair um pequeno pedaço de papel. Cris até quis avisar, mas ficou com medo de causar histeria e pânico geral, caso falasse alguma coisa. De qualquer forma, o pequeno papel lhe chamou a atenção, e a princípio, quase que nosso herói deixa passar despercebido, pois em um primeiro momento pensou ser um cartão postal dele mesmo, mas estranhou a coroa na cabeça e a posição dos braços definitivamente não estava de acordo com o usual. Olhou mais uma vez e percebeu que se tratava de outra figura, quase que de seu mesmo porte. Ficou animado e pensou: finalmente, alguém da minha estatura para conversar! Qual não foi a surpresa quando finalmente se deu conta que se tratava de uma mulher! E linda! Foi paixão à primeira vista.
Desse dia em diante, Cris não pode mais descansar e começou a falar com todos os pombos que pousavam em seus braços sobre a sua mais nova descoberta. Muitos não sabem, mas os pombos são os emissários das estátuas, em troca de pouso e proteção. Cris queria saber quem era aquela estátua do cartão postal, onde ela estava instalada, qual era sua estatura, de qual material havia sido constituída, enfim, todos os detalhes. Levou cerca de três meses até que finalmente o pombo descobriu que aquela estátua era ninguém mais, ninguém menos que a Estátua da Liberdade! Quando Genaro (o pombo) contou a Cris, ele corou! Já tinha ouvido falar, mas havia dado de ombros, pois não queria conhecer aquela que era sua concorrente em tamanho e popularidade, ainda mais quando instalaram uma cópia dela em um bairro afastado do Rio. Achava que esta estátua era uma “patricinha”.
Diante desta descoberta, Cris ficou envergonhado e arrependido. Não tivesse sido tão preconceituoso, teria conhecido sua musa há muito mais tempo. Mas daí em diante passou à ação. Combinou com Genaro uma cadeia de comunicação que chegasse até Nova York. E assim foi que, de pombo em pombo, Cris escreveu para Liby (como eu a chamo na intimidade) e os dois começaram um relacionamento à longa distância. A princípio, Liby resistiu, mas por fim cedeu ao charme e galanteio do carioca. Ela estava há muito tempo sozinha e a carência ajudou um pouquinho acelerar o processo de encantamento. E assim foi que começou o namoro entre o símbolo cristão mais simpático do Brasil e o símbolo humanitário mais amado dos Estados Unidos.
O tempo passou, o relacionamento se fortaleceu e finalmente, em 14 de Fevereiro de 2009, Dia dos Namorados nos Estados Unidos, Cris surpreendeu Liby com um lindo anel de noivado. Ela aceitou imediatamente, já preocupada com todos os preparativos para a cerimônia e a festa. Cris estava felicíssimo. Marcaram a data do casamento para o dia 12 de Junho do mesmo ano, dia dos namorados no Brasil.
Chegado o grande dia, toda a cidade foi ver o casamento. Os melhores estilistas foram convidados para confeccionarem em conjunto o vestido da singular noiva. A cauda, gigante, cobriu o céu da cidade na passagem de Liby, do porto à capela do Corcovado, local onde seria realizada a cerimônia, como uma longa nuvem cobrindo o céu por onde passava. Alguns paparazzi no Largo da Carioca tentaram tirar uma foto da noiva, mas só alcançaram o final da cauda. Para não serem arbitrários, os noivos combinaram que a cerimônia seria no Rio, mas a festa seria em Nova York. A lua de mel, é claro, seria em Paris.
E esta é a história do casamento do Cristo Redentor com a Estátua da Liberdade! Uma história insólita, eu avisei! Os detalhes da locomoção e da convivência dos dois símbolos estáticos fazem parte da magia, que só a literatura pode conceber.
11 de Junho de 2010
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