Matar o tempo, que delícia! Descobri uma nova maneira de matar o tempo, fazer uma masturbação mental, ficar dormente em frente o computador enquanto a inspiração e a vontade de trabalhar não vêm: é o zapping internético! Fico pulando de página em página dos mais diversos jornais, lendo somente as manchetes, me atualizando para o papo do boteco, sem me aprofundar em nenhuma das notícias, até porque em papo de mesa cheia em boteco você não precisa falar mais que duas frases, basta comentar uma linha que o assunto gira a mesa como aquela brincadeira antiga do telefone sem fio, cada um vai dando sua opinião e aumentando um pouquinho no conto. De vez em quando alguma notícia me interessa mais, aí clico no link para ler a matéria toda.
Até um tempo atrás eu lia também os comentários dos outros internautas, mas isso começou a me gerar um medo, comecei a ficar deprimida, foi me dando uma sensação de estrangulamento, de oquequeeutofazendoaqui, de desespero, enfim, pânico. Incrível como de repente você descobre que ao seu redor existem pessoas com os mais variados tipos de pensamentos, pensamentos que você julga imoral, ignorante, criminoso, errado, simplesmente errado. Não estou falando de diferença cultural, estou falando do mais básico mesmo. Eu comecei a ficar preocupada, pois por mais que as páginas de jornais na internet tenham alcance global, a rapidez com que a informação trafega e se multiplica te dá a mesma sensação do telefone sem fio, da brincadeira inocente de criança. De repente parece que a notícia passou de boca em boca, bem ali, ao seu lado, como numa mesa de bar. Só que na internet você não reconhece seus amigos. Você nem sequer reconhece a humanidade.
Comecei a ficar tão desencantada, tão chateada, que comecei a perder a fé nessa tal de humanidade. Meu médico da cabeça me receitou três meses sem internet, para não correr o risco de me deparar sem querer com algum comentário. Estava funcionando, até o dia em que li no jornal impresso que o Chico Buarque estava triste por causa da repercussão que a estréia dele no mundo virtual havia causado. Ele estava admirado com as críticas negativas e declarou que ficou surpreso, pois como sempre havia vendido bem seus discos e shows, achava que era amado, mas em poucos dias descobriu que era odiado, como ele mesmo declarou, depois de ler os comentários infames que deixaram em sua página. Então, por causa do meu querido Chico, que tanto já me inspirou, encantou, acalentou e ninou, decidi fazer esse desabafo. Estou até pensando em fazer uma campanha para acabar com essa sessão nas páginas na internet, mas acho que soaria como censura, e na minha opinião, censura também é odioso. Portanto, cheguei à conclusão que o melhor mesmo é uma campanha de conscientização: chega de ódio gratuito, críticas destrutivas, julgamentos apressados e falta de gentileza! Fale da beleza, fale do amor, não culpe a vítima, não detone a gramática, não arrase a nossa raça, ou simplesmente, não fale, se não for para falar bonito!
Mas enquanto a campanha não pega, eu sugiro não ler os comentários das páginas de notícias dos sites da web. Hoje só faço zapping pelas páginas de televisão e cinema. Pelo menos ali toda a maldade é ficção.
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